terça-feira, 17 de abril de 2012
Conversa de Botequim nº 2
Abril de 1963. José Lewgoy estava em Roma, na boutique Battistone, na via Condotti, quando entra luminosa, esfuziante, Elizabeth Taylor, que na época fazia o maior sucesso na Itália, filmando “Cleópatra”.
Ela – a própria glória – pega tudo, examina tudo, compra tudo, não repara em ninguém, só enxerga a si mesma, refletida nos espelhos, nos olhares, nos desejos, nos desígnios.
Lá fora, ofuscadas, pessoas se juntam para vê-la, admirá-la e, se possível, garimpar-lhe um pé de galinha.
Negligenciado pela rainha e pela corte de vendedoras, José Lewgoy se retira do recinto.
Ao sair, topa com uma retardatária, nervosíssima, morta de curiosidade:
– Quem está aí? Quem está aí? – pergunta aflita.
– Elizabeth Taylor – responde o ator. “E José Lewgoy”.
Um belo dia, durante uma festa de casa grã-fina, o arquiteto Roberto Burle Marx exagerou no vinho e nos canapés.
Sentiu que não dava mais para manter o líquido dentro do estômago e partiu voando para o lavabo.
Abriu a porta já com a pasta aflorando na garganta e topou com uma senhora de costas, curvada, à cata de papel higiênico, traseiro exposto.
Não deu tempo. O esguicho grená foi direto na bundoca de madame.
Dona da bunda vomitada: Flor de Oro Trujillo.
O mineiro Edson Maciel nasceu numa família de músicos ou, mais exatamente, de trombonistas.
Seu pai e pelo menos dois de seus irmãos tocaram trombone, sendo que o mais velho, Edmundo, seguiu carreira e, em vários momentos, participou de gravações junto com Edson.
Foi nesse meio que se deu a iniciação musical de Edson Maciel, embora não haja informações sobre com que idade, com quem e o quê aprendeu, além do trombone.
A trilha da formação de Edson Maciel reaparece em meados da década de 1950, no Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro, quando é citado constantemente como um dos principais músicos de sopro que ajudaram a criar a moderna música instrumental brasileira.
Junto a alguns dos maiores instrumentistas que o Brasil produziu, teve contato com o jazz e com a intensa disputa que caracteriza o convívio dos músicos de primeira linha.
Conheceu e tocou com diversos jazzistas que visitavam o Brasil e davam “canjas” no Beco, e pôde ouvir ao vivo Nat King Cole, Dizzy Gillespie, Bud Shank e outros que por aqui passaram.
Com arranjos de Tom Jobim, o disco Sergio Mendes e Bossa Rio foi um marco na MPB porque contava com uma gama de instrumentistas de alto quilate: Sérgio Mendes (piano), Edison Machado (bateria), Tião Neto (baixo), Aurino Ferreira (sax tenor), Edson Maciel (trombone de vara), Raul de Souza (trombone de válvula) e Hector Costita (sax tenor).
Maciel era um mulato sestroso, muito engraçado, cabeça meio pensa, que debochava de tudo e de todos.
Depois do sucesso do disco de Sergio Mendes, ficou mais abusado ainda.
Uma noite, o trombonista foi jantar num restaurante chiquérrimo, no Rio de Janeiro, provavelmente o Le Bec Fin (que a Ilka Soares chamava de Fim do Beco).
O maitre aproximou-se com o cardápio, ou melhor, com o menu. O Maciel perguntou:
- O que é que tem?
O maitre, suntuoso, imperial, vingando-se da Lei Afonso Arinos, responde com arrogância e desdém:
- Tudo, cavalheiro.
- Ah é? - comanda Maciel - então me traz rã com endívias, farofa de asa de morcego e suco de capim navalha com hortelã...
O maitre queria briga.
Domingo cedo, o jornalista e escritor Joel Silveira telefona para o arquiteto e escritor Marcos de Vasconcellos, quer companhia para o uísque.
- Não posso, Joel! -, responde o arquiteto. "Tenho um compromisso em Niterói."
Joel, com aquele exagero calmo que era direito seu, merecido, pois morreu na FEB, defendendo a pátria, como ele mesmo dizia, estranhou a viagem:
- Você? Domingo? Niterói? Não combina.
E contou:
- Uma ocasião, fui com o Rubem (Braga) a Petropólis num domingo e lá visitamos o Soares Sampaio, grand seigneur, elegantíssimo, superior. O Rubem, lá pelas tantas, quis dar um passeio pela cidade. Soares Sampaio soterrou-lhe a idéia com uma sentença histórica, proferida com majestade: deixemos o domingo à patuléia.
E concluiu:
- Nada de Niterói! Venha já pra cá!
O arquiteto foi.
Casa do músico Luiz Bonfá, um grupo pequeno de amigos foi escalado para o sabido prazer de conhecer e ouvir um dos grandes cantores americanos de jazz, Richie Havens, monstro sagrado de todos os grandes festivais do mundo.
Havens não se fez de rogado e cantou horas seguidas para uma turma embasbacada.
Detalhe: ele não tinha um único dente na boca deserta, tal como pode ser visto no filme Woodstock.
Uma das moças tomou coragem e, animada pela simplicidade do músico, perguntou por que ele não metia lá a terceira dentição.
Resposta de Richie Havens:
- Pra que? Não tô a fim de morder ninguém...
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