Agosto de 1972. O médico Sergio Carneiro percorria os
corredores de um dos hospitais onde trabalhava, numa visita de rotina aos seus
doentes.
Inadvertidamente, entrou num quarto que não era de nenhum
cliente seu.
Um homem, um senhor, arfava sobre a cama, parte do rosto coberto
pela máscara de oxigênio, a armação metálica ao lado, sustentando um frasco de
soro, ministrava-lhe o líquido na veia.
Ao pé do leito do paciente, um rapaz velava, tristonho e
preocupado.
Sergio, vendo-o sozinho, tentou um gesto de solidariedade:
– Então, como vão as coisas?
– Mal, muito mal. É meu pai. Enfisema. Excesso de cigarro.
Começou a fumar com 14 anos, nunca parou, deu nisso...
– Pois olha! – disse o Sergio. “Desde que parei de fumar não
consigo nem transar com mulher que fuma. Não agüento nem o cheiro.”
O enfisemado, com um gesto lento, difícil, afastou um pouco
a máscara, liberando a boca e declarou, a voz macerada, roufenha, quase sem
fôlego:
– Então, o senhor deve estar comendo muito pouca gente...
Dito isso, teve um estertor e deu o último suspiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário