Doum Romão, o músico. Ou Dom Um Romão, para os menos
íntimos.
Pele cor-de-tâmara, cara de árabe, cavanhaque, cabelo
cacheado, cara de malandro, sorriso eterno: tudo isso encimando um corpo seco e
musculoso, moldado pelos nervos de baterista.
Na juventude, era um cabra folgado, metido a capoeira, encarava
qualquer briga de rua.
Carioca da Zona Norte, com livre trânsito na Zona Sul, foi
um dos inventores do Beco das Garrafas.
Uma ocasião, o baterista descia com outros companheiros do
Brasil 66 – antecessor do Brasil 88, de Sérgio Mendes, onde ele tocava – pelo
elevador do Hotel Hilton, de Tóquio.
Num dos andares entra um japonês baixinho, metido num
quimono de seda cinzenta, ambos – japonês e roupa – seriíssimos.
Sabe como é brasileiro em bando fora do Brasil: parte direto
para o deboche.
O Doum não deixou por menos, começou a rir e a falar em
português:
– Olha só o japona, uns e outros! Parece madame nissei de
São Paulo, endomingada para Festival do Tomate Shintô. É do tipo que se desce
corrimão pelada faz brrrr...
A brincadeira foi por aí, durou até o térreo.
O japonês saiu do elevador, deu uns quatro passos,
voltou-se, plantou-se nas duas pernas, cerrou os punhos, olhou Doum no fundo da
retina e perguntou, glacial:
– Are you looking for trouble?
Doum, amarelo-marinho, num inglês aos farrapos, só faltou
ajoelhar.
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